sexta-feira, 29 de abril de 2011

E o João ?


O atendimento agora é integral.O sonho de ampliar o horário aos estudantes finalmente vira realidade . As crianças ficam um turno no regular e o outro com pesquisas sobre ambiente, tecnologia e artes. Um sonho ! Ainda mais em se tratando de Brasil e comunidade carente.

Mas o projeto da administração é para salas ambiente.... Ótimo, exceto por alguns detalhes. Não há o Ambiente para as salas.... A rotatividade de alunos, apelidada por mim de rodízio de crianças eleva para 10 o número de professores deles .
Pessoalmente não me lembro de ter tantos professores assim nem na época da faculdade.E o mais importante : e o João? A tão famosa sala ambiente fica no 1º andar e um dos alunos utiliza-se de muletas para se locomover.
A resposta é que é necessária a mudança, a admistração requer e temos que passar pela experiência, nem que seja para provar que não deu certo....E pensar que vivo dizendo aos meus estudantes que não experimentem nada se sabem que não é bom .
Mas chega o dia da mudança.As crianças perguntam se realmente vai ocorrer e indagam : E o João ? Ele mesmo responde: o médico disse que ele pode descer e subir escadas, só que ele não viu como são as nossa escadas! - ele sabiamente complementa.
Na escola, os alunos ajudam na troca de espaço e fazem , via formiguinha, o processo de deslocamento de nossos objetos e livros..João olha, ficou com o cargo de gerência do deslocamento.É incapaz de levar qualquer coisa na mão, carrega até sua mochila pendurada no pescoço.
Na sala, um dos alunos, Bento, pergunta : prô, eles vão esperar o João cair para nos mandar de volta pra cá ? Todos acompanham a pergunta, mas o olhar fica no rosto da prô, que segura sua verdadeira resposta para simplesmente dizer que espera que o pior não aconteça.Silêncio na sala.
As amigas da limpeza vem perguntar se vamos mudar .Respondo que sim e a indagação vem na mesma velocidade : E o João ? Os alunos viram para ver e ouvir a resposta que se restringe ao movimento da cabeça.
As colegas professoras percebem a movimentação e querem saber o que está acontecendo. Aviso que nossa mudança chegou. Elas questionam : E o João ? Novamente resumo a situação na cabeça.
Terminamos o deslocamneto e vou olhar como ficou. Chego na sala e descubro que nossas mesas são infantis, tenho 27 alunos, dos quais 7 são especiais e um deles, o João, tem 15 anos....E pensar que o projeto é Sala ambiente... Queria tanto que fosse Aluno integral....Os alunos que não tinham visto perguntam se vamos ter que ficar NAQUELAS mesas ....
Terminamos a manhã junto da pedagoga.
As mesas, acho que consegui com que percebessem o tamanho dos alunos, mas confesso que continuo me perguntando ..E o João ?

Um comentário:

  1. Ao analisar a história do João penso que se faz importante destacar a diferença entre inclusão e integração.
    Inclusão é quando a escola abre os braços para acolher todos os estudantes; na integração é o estudante que tem de se adaptar às exigências da escola.
    Assim pode-se concluir que na primeira, o fracasso escolar é de responsabilidade da escola, ou melhor, de todos (autoridades, professores, pais, alunos); na segunda, o fracasso é do estudante que não teve competência para se adaptar às regras inflexíveis da escola, que presta mais atenção aos impedimentos do que aos potenciais das crianças.
    Para mim, a inclusão é estar com o outro; a integração é estar junto ao outro (que não necessariamente significa compartir nem aceitar, estamos junto dele, mas não estamos com ele).
    Mas, a integração é ainda mais cruel, pois, nem todos os estudantes com “deficiência" têm a chance de entrarem numa turma de ensino regular, já que a escola faz uma seleção prévia dos candidatos que estariam, ou não, aptos (segundo critérios da própria escola respaldada pelo SISTEMA, que nem sempre são claros, pelo menos para o candidato). Mesmo assim, no melhor dos casos, a integração escolar acaba sendo o deslocamento da educação especial para dentro da escola regular; muitas vezes, criando “turmas especiais” para atenderem os “alunos especiais”, e permanecendo as “turmas normais” para “alunos normais”. Ou seja, a discriminação e preconceito continuam, só que desta vez, dentro da própria escola.
    Já a inclusão é incompatível com a integração, visto que, ela defende os direitos de todos, sem exceção, a frequentarem as salas de aula de ensino regular. Não se trata apenas de todos frequentarem a mesma escola, e sim, de frequentarem as mesmas salas de aula. Todos os estudantes juntos, independente das suas necessidades ou particularidades (já que, a rigor, todos nós temos nossas necessidades, que constituem nossas particularidades). Preferimos falar de particularidades em vez de necessidades; já que esta última dá a impressão de carência (soa negativamente), e a primeira ressalta nossas qualidades específicas (soa positivamente). Então, a escola inclusiva é aquela que tem salas de aulas inclusivas, e mais, bibliotecas inclusivas, banheiros inclusivos, acessos inclusivos, projeto pedagógico inclusivo, e, principalmente, estudantes e professores inclusivos.
    Quanto ao estudante João, ele está sendo integrado na referida escola e não incluido e finalizo meu post deixando a seguinte reflexão: ao final do processo qual será a avaliação desse estudante e quem se responsabilizará por esse resultado,(caso ele não atinja os objetivos propostos para a etapa ou não se desenvolva a contento); o médico que prescreveu o uso das escadas sem conhecer a realidade das mesmas, a família do estudante, o próprio estudante ou toda a equipe pedagógica da escola?
    Repiupiu

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