domingo, 29 de agosto de 2010

IMPLANTE COCLEAR



Desenvolvido pelos residentes da Disciplina de Clínica Otorrinolaringológica do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo .



I. INTRODUÇÃO

É uma prótese eletrônica desenvolvida para captar energia sonora mecânica e convertê-la em sinais elétricos que são enviados ao nervo coclear e interpretados pelo paciente. Os componentes deste sistema são similares em todos os modelos:

· unidade de processamento da fala (externo): microfone, processador da fala, sistema de acoplamento, circuito de estimulação implantável.

· unidade de suporte para programação: sistema baseado em um microcomputador, cuja finalidade é programar os parâmetros da fala.

· unidade implantável interna: antena de recepção e eletrodos de estimulação.

Em resumo o microfone capta o som e o transforma em sinais elétricos. Estes sinais são amplificados e codificados pelo processador da fala que é o “cérebro”do implante, pois ele seleciona freqüências e amplitudes sonoras que são enviadas ao sistema transmissor que emite ondas eletromagnéticas (sistema transcutâneo) para a unidade interna que estimula as terminações do nervo auditivo.

Estudos sugerem que o local da estimulação seja o gânglio espiral.


II. CLASSIFICAÇÃO

A) Quanto ao modo de funcionamento do processador da fala:

· Analógico: o som convertido em sinal elétrico e amplificado mantém as mesmas características de freqüência e intensidade.

· Digital: O som captado é filtrado e codificado em determinados parâmetros antes de ser transmitido.

B) Quanto a forma de acoplamento: percutâneo (transmissão por continuidade) ou transcutâneo (indução magnética).

C) Tipo de eletrodos: intracoclear ou extracoclear

D) Número de eletrodos: monocanal (não permite boa discriminação de ruídos e palavras) e multicanal.

E) Modo de estimulação do eletrodo: múltipla simultânea (vários eletrodos são estimulados simultaneamente) ou única (somente um eletrodo recebe o estímulo).


III. SELEÇÃO DE PACIENTES

A) Critérios do Implante coclear (FMUSP-1):

Pacientes portadores de disacusia neurossensorial profunda bilateral que:

1) já tenham adquirido linguagem antes da perda auditiva (surdez pós-lingual)

2) Não tenham obtido benefício com prótese auditiva (ganho convencional de inserção menor do que 55dB HL)

3) Tenham o nervo coclear com capacidade residual suficiente para obter uma sensação subjetiva de som ao estímulo elétrico apresentado.

4) Tenham avaliação psicológica favorável em relação à motivação para usar o implante e se submeter as adaptações do modelo.

5) Saibam ler, escrever e ter boa leitura labial, requisitos necessários para um bom aproveitamento na fase de reabilitação.


B) Critérios de Exclusão (para o atual FMUSP-1):

1) Idade abaixo de 10 e acima de 45 anos

2) Surdez pré lingual

3) Otites

4) Mal formações congênitas de osso temporal

5) Patologias vestibulares com hipertensão endolinfática

6) Deficiência mental

Observação: alguns autores também indicam o implante também para crianças com mais de 2 anos. A presença de cavidade radical prévia e ossificação coclear não necessariamente contra indica o implante. O nível de disacusia geralmente aceito para indicação de 95dB HL ou maior.


C) Avaliação

1) Função auditiva

· Audio + impedanciometria

· BERA + ECOG

2) Função vestibular

· Teste vestibulares e pares cranianos

· Eletronistagmografia

3) Integridade do N. Coclear:

Estímulo elétrico no promontório - determinar percepção sonora ou não ( o teste negativo não implica contra indicação absoluta, mas menor chance de respostas)

4) Testes psicológicos

5) Explicar o tratamento, cirurgia e a reabilitação para o paciente e sua família


IV. TÉCNICA CIRÚRGICA (Técnica Profs. Aroldo Minitti - Ricardo Bento)

É realizada uma mastoidectomia radical com timpanotomia posterior.

É realizada uma depressão arredondada no osso parietal a 4 cm posterior ao CAE para a unidade receptora interna. Broca-se um sulco entre a janela redonda e a cavidade mastóidea onde será inserido o(s) eletrodo(s).

Assim o eletrodo ativo é insinuado na cavidade mastóidea e passado pela timpanotomia posterior com fixação do mesmo. O eletrodo pode ser intracoclear (introduzido 5 mm através da janela redonda) ou extracoclear (fixa no núcleo da janela redonda).


V. COMPLICAÇÕES:

As complicações são as mesmas da cirurgia do ouvido crônico, isto é infecção, paralisia facial, fístula liquórica, meningite e riscos da anestesia. Todos estes riscos são remotos em cirurgia de ouvido crônico e foi provado que também o são na cirurgia para implante.

O sistema percutâneo tem maior incidência de processos infecciosos que o transcutâneo já que no 1º o sistema transmissor e receptor são contínuos. Não há evidência que o implante atue negativamente no sistema vestibular e zumbido.

Problemas com degeneração dos elementos neurais remanescentes devido a trauma mecânico, osteogênese, estimulação elétrica e extensão de infecção do ouvido médio para o ouvido interno ou SNC não ocorreram.


VI. REVISÃO CIRÚRGICA:

· Troca de aparelho defeituoso

· Upgrade


VII. BENEFÍCIOS DERIVADOS DO IMPLANTE COCLEAR:

A OMS estima que 10% da população mundial tem deficiência auditiva e que esta é a principal causa de deficiência física crônica sem tratamento. No Brasil estima-se em 350.000 o número de indíviduos com deficiência auditiva severa.

Até os dias atuais, o tratamento mais efetivo concluído para surdez total é o implante coclear.

Acredita-se que 50% dos pacientes com implante conseguem perceber razoavelmente palavras monossilábicas ou sentenças e que 25% - 50% dos pacientes com implantes multicanais pode ouvir em níveis variados palavras ao telefone.

Estes pacientes recuperam o contato com o meio externo, sendo capazes de reconhecer sons ambientes. A leitura labial ajuda muito nos diálogos.

Deve-se acrescentar a importância do desenvolvimento no nosso país de programas nacionais para desenvolvimento tecnológico do implante coclear como é o caso do projeto FMUSP-1.


BIBLIOGRAFIA:

1) Tratado de ORL-Otacílio e Campos.Parte IV ;cap 35


ARTIGOS:


1. Tratamento cirúrgico e reabilitação de surdos peri e prelinguais, adultos e crianças com o implante coclear multicanal Nucleus

Garcia J.M. M.D., Barón clemencia.,García Jorge. M.D., Peñaranda Augusto. M.D., Niño Caudia. MD., Campos Silvia.

Fundación Santa Fé de Bogotá Colômbia.

ENT Journal, March 1994; 73, 3.

Introdução:

Os autores reportam 4 casos de pacientes submetidos a colocação de implante coclear; e apresentam os resultados preliminares.

Casos:

4 pacientes foram submetidos a colocação de implante coclear com aparelho Nucleus mini 22 System.

Um dos pacientes é um adulto masculino com surdez n.s. bilateral profunda, secundaria a incompatibilidade Rh; o segundo uma criança de 3 anos 11 meses com surdez n.s. bilateral profunda devido a rubéola materna; o terceiro uma mulher de 28 anos com surdez n.s. bilateral profunda também por rubéola materna e o quarto uma mulher de 31 anos com surdez n.s. bilateral profunda por administração de ototóxicos aos 9 anos.

Preoperatoriamente os pacientes foram estudados do ponto de vista médico e audiológico incluindo, estimulação do promontório e CT de ossos temporais; foi tida em conta a expectativa familiar e do paciente, a performance em situações de comunicação e o estado psicológico.

Resultados Clínicos:

Os limiares audiométricos mudaram logo depois da programação e ofereceram aos 4 pacientes melhora significante com uma resposta plana perto de 40 a 50 dB no audiograma. Os progressos foram evidentes em relação ao desenvolvimento psicolinguístico na criança e na capacidade comunicativa social e ocupacional nos adultos. Reporta-se uma complicação relacionada com infecção do flap na criança tratada satisfatoriamente com penicilina ev.


2. Desempenho de adultos surdos pré e pós-linguais que tem usado implante coclear simples ou multicanal.

JB Hinderink, M.D., AFM. Snik. PhD., LMH. Mens, PhD, JPL. Brokx, PhD., P. van den Brroek, PhD.

Nijmegen, Netherlands.

ENT Journal; March 1994; 73,3.

Introdução:

Vários estudos tem demostrado que em geral, o progresso dos pacientes surdos pós-linguais com implante multicanal foi superior ao de os pós-linguais implantados com monocanal. Só poucos estudos tem-se orientado a avaliar os resultados da implantação em adultos prélinguais e até donde os autores sabem não tem estudos comparativos entre os diferentes sistemas de implante em adultos surdos prélinguais.

Neste estudo os autores comparam os resultados dos testes de reconhecimento de fala em surdos pré e pós-linguais que tem aparelhos multi ou monocanal. Foram revisados os resultados de dois anos de acompanhamento; devido que pode-se esperar melhora nos scores segmentar e supra-segmentar durante os dois primeiros anos pós implante mas não posteriormente.

Pacientes:

O grupo de pacientes está constituído por 8 pares de surdos, 4 pares prélinguais e 4 pares pós-linguais organizados conforme o inicio e a duração da surdez devido a que estas duas variáveis foram consideradas relacionadas com a eficiência do implante. Cada par estava constituído por um paciente implantado com mono canal e outro com multicanal.

Os pacientes cumpriam com os requisitos para candidatos a implante.

Metodologia:

Foram administrados testes de reconhecimento da fala pré e pós implante nos aspectos segmentais ( reconhecimento de palavras), e supra segmentais ( reconhecimento de padrões de palavras) o Monosyllable- Trochee- Spondee ( MTS) ; adicionalmente foi usado um teste de identificação de sons ambientais pré-gravados e o CDT ( continuous discourse tracking) este último usado para determinar o numero de palavras repetidas por minuto corretamente quando lidas ao paciente. estes testes foram realizados sem e com o implante ligado e seus resultados comparados estatisticamente.


Resultados e discussão:


Foram encontrados melhores resultados nos pacientes pós-linguais que tinham implante multicanal do que em aqueles pós-linguais com implante monocanal.

a comparação da performance entre os pares pré-linguais mostra uma diferencia menor do que a dos pares pós-linguais. Em alguns dos pares pré-linguais, notou-se a tendência dos portadores de monocanal mostrarem resultados melhores do que os de os portadores de multicanal. Isto, segundo os autores, sugere que os implantes monocanal com estimulação analógica podem ser mais vantajosos para pré-linguais do que os aparelhos digitais multicanal. . O anterior justifica estudos futuros e indica que em pré-linguais o implante coclear monocanal pode ser suficiente.


Fonte : surdos.com.br

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